quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Homens Invisíveis

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Você já se sentiu invisível???

Lembro que quando era criança queria ter o poder de ficar invisível e sair aprontando um monte de coisas sem que ninguém me visse.
Hoje percebo que a invisibilidade nem sempre é um poder desejável.

Ao vestir um uniforme e executar uma função "braçal" (entre aspas, já que nem todo dia utilizo uma ferramenta no trabalho) percebo que a forma como sou tratado muda muito. A função de mecânico é vista como importante quando algo dá errado, mas na maior parte do tempo é associada à um mal necessário. Pilotos, comissárias e até mesmo chefes olham de cima. Quase sempre passam sem ao menos trocar um olhar. Isto só muda de figura quando há um problema a ser resolvido na aeronave.

Não li o livro “Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social”, do psicólogo Fernando Braga da Costa, mas li uma reportagem sobre a tese em que ele conseguiu provar a existência da invisibilidade pública, quando vestiu uniforme e trabalhou oito meses como gari na Universidade de São Paulo. Lembro de seu relato de angústia quando pessoas que o tratavam como amigo, passavam por ele sem ao menos dizer "oi" quando vestia o uniforme. Segundo ele, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são “seres invisíveis, sem nome”.

Estamos cercados de pessoas socialmente invisíveis. Você passa pelo homem que está varrendo a rua, pela mulher que está te servindo na lanchonete, pelo homem que abastece seu carro, pela mulher que pede esmola no farol, pelo garoto que engraxa teu sapato e por tantas outras pessoas, que você, do alto de seu universo-umbigo, não quer perceber.

Aprendi quando garoto que você não precisa (muitas vezes não deve) dar dinheiro para demonstrar reconhecimento. Um bom dia, um obrigado, um por favor, um sorriso, um aceno de cabeça ou um olhar custam quase nada para quem os dá. Valem muito para quem os recebe.

Pense nisso quando encontrar alguém que você considera menos importante.

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